BENEDICT DASWA, o primeiro beato da África do Sul

Benedict Daswa, o primeiro beato da Igreja Católica nativo da África do Sul, foi brutalmente assassinado a 2 de fevereiro de 1990, aos 44 anos, por se recusar a tolerar o recurso à feitiçaria, que tanto a sua fé como a sua atitude científica lhe proibiam.

benedictdaswaslider

Tshimangadzo Samuel Daswa nasceu em 16 de junho de 1946 em Mbahe, uma aldeia situada a 30 km de Thohoyandou a principal cidade da antiga Venda Homeland, na província de Limpopo e Diocese de Tzaneen, na África do Sul. A família Daswa pertencia à tribo Lemba, uma tribo de judeus negros. Os pais de Samuel eram trabalhadores e empreendedores, e eram conhecidos pela sua hospitalidade e amabilidade.

Samuel Daswa, o mais velho de cinco irmãos, começou a sua instrução na escola primária Vondwe, em 1957, e completou o ensino secundário no liceu de Mphaphuli. Após a morte prematura do pai, assumiu a responsabilidade de cuidar dos irmãos, começando a trabalhar para lhes financiar os estudos e incentivando-os a aplicarem-se.

Num ano em que passou as férias em Joanesburgo com um tio, trabalhando em part-time, conheceu um jovem branco católico e fez amizade com vários rapazes shangaans que também eram católicos. Ao regressar a Mbahe, começou a receber aulas de doutrina. O catequista, um leigo chamado Bento Risimati, orientava a liturgia dominical e ajudava o sacerdote que vinha de Louis Trichardt uma vez por mês celebrar a Missa. Risimati, que após a morte de sua mulher foi ordenado padre, exerceu uma forte influência sobre Samuel.

Após dois anos de catequese, Samuel foi batizado em Mafenya, na paróquia de Sibasa, e escolheu Benedict como nome de batismo, inspirado no lema “Ora et labora”, de São Bento. Três meses depois, recebeu a confirmação das mãos de D. Clemens F. van Hoek, um bispo dominicano.

Tirou o curso de professor primário no Instituto de Formação de Vendaland e foi colocado na escola primária de Tshilivho, na aldeia de Ha-Dumasi; continuou a estudar por correspondência, com o objetivo de entrar na universidade.

Entretanto, colaborava com os catequistas e o padre da sua paróquia, e empenhou-se na construção da primeira igreja católica na área de Nweli. Foi secretário do conselho do chefe e confidente do chefe e fazia muitas vezes de mestre-de-cerimónias nas festas. Era conhecido por sua honestidade, veracidade e integridade; dizia o que pensava, não se deixando influenciar pelas opiniões populares.

A certa altura foi nomeado diretor da sua escola; era um líder honesto e destemido, que incentivava e apoiava a sua equipa de professores. O bem-estar dos alunos era a sua principal preocupação; quando algum deles faltava à escola, ia visitar a família, para ver se podia ajudar em alguma coisa. E, se algum estudante não podia pagar as propinas, dava-lhe trabalho na sua horta, a fim de o jovem ganhar o dinheiro necessário para esse fim.

Em 1974, Benedict Daswa casou-se com Eveline Monyai, de quem teve oito filhos. Ajudava a mulher nas tarefas domésticas – coisa totalmente inédita na época – e construiu uma casa de tijolos para a família. Também apreciava os desportos, tendo constituído duas equipas de futebol para jovens.

Em novembro de 1989, a área de Venda foi alvo de fortes chuvas e trovoadas, que a população considerava não se tratar de fenómenos naturais, mas serem resultado da atuação de um bruxo; começaram por isso a tentar identificar o responsável por aqueles acontecimentos. A 25 de janeiro de 1990, durante uma chuvada torrencial, caíram vários raios naquela zona e a comunidade reuniu-se para discutir o assunto, acordando em consultar um feiticeiro tradicional para identificar o bruxo.

Ao chegar à reunião, Benedict começou a argumentar com os presentes, tentando fazer-lhes ver que os raios eram um fenómeno natural, não sendo portanto causados por ninguém; mas esta explicação não os convenceu. Vendo que não conseguia demovê-los, Benedict recusou-se a participar na consulta ao feiticeiro, declarando firmemente que a sua fé o impedia de tomar parte em atividades de bruxaria. Esta atitude desagradou a muitos.

A 2 de fevereiro de 1990, teve de ir de carro a Thohoyandou, para levar a cunhada e o sobrinho, que estava doente, ao médico. No caminho de regresso, um homem que transportava um grande saco de milho e que morava numa aldeia ao lado de Mbahe pediu-lhe boleia para casa. Benedict chegou a Mbahe por volta das 19.30h e, depois de deixar a cunhada e o sobrinho em casa, disse à filha que ia levar o homem à aldeia dele e já voltava.

Ao regressar a casa, encontrou a estrada obstruída com troncos de árvores; quando saiu de carro, viu aproximar-se uma multidão de jovens e adultos, que começaram a apedrejá-lo. Ferido e a sangrar, fugiu a correr e foi abrigar-se na palhota de uma mulher. Quando a turba chegou diante da palhota, ameaçou a mulher de morte se não revelasse onde ele estava escondido. Ouvindo as ameaças, Benedict saiu de dentro da palhota e imediatamente avançou para ele um homem com uma moca na mão; percebendo o que ia acontecer-lhe, Benedict rezou: “Meu Deus, nas tuas mãos entrego o meu espírito”, recebendo logo em seguida um golpe fatal que lhe esmagou o crânio; em seguida, os agressores deitaram-lhe água a ferver sobre a cabeça.

A mulher foi a correr contar a Mackson, o irmão de Benedict, o que tinha acontecido. Depois de chamar a polícia, Mackson passou a noite a velar o corpo do irmão. Na sequência do inquérito ao brutal assassínio, foram presas algumas pessoas, mas não chegaram a ser condenadas, por falta de provas.

A missa de corpo presente teve lugar a 10 de fevereiro de 1990. A procissão saiu de casa de Benedict, em Mbahe, e seguiu para a igreja de Nweli. A missa foi concelebrada por vários sacerdotes que, de comum acordo, envergaram paramentos vermelhos, em reconhecimento do facto de que Benedict morrera pela fé e fora vítima da sua oposição à feitiçaria. A cerimónia foi acompanhada por muita gente, que depois seguiu o funeral até ao cemitério de Mbahe. A mãe de Bento, Ida Daswa, que se convertera pouco tempo antes da morte do filho, conseguiu comprar uma lápide para o túmulo com as suas magras poupanças.

Daswas-mother-by-his-gravesite

Em junho de 2008, teve início o processo de beatificação e canonização de Benedict Daswa a nível diocesano, concluído em julho de 2009. Benedict Daswa foi beatificado a 13 de setembro de 2015, no Santuário Benedict Daswa em Tshitanini, na província do Limpopo, em missa celebrada pelo cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, a que assistiram mais de 30.000 pessoas. O seu processo de canonização está em curso.

 Benedict+Daswa+honour

Fontes:

http://benedictdaswa.org.za/; http://awestruck.tv/benedictdaswa/his-life/; https://en.wikipedia.org/wiki/Benedict_Daswa.

Ao longo dos anos, Harambee Internacional financiou três projetos na África do Sul, dois em Joanesburgo e um em Pretória.