PRIMEIRA TESE DE MESTRADO SOBRE HARAMBEE

Maria João Lopes é uma jovem licenciada em Gestão de Atividades Turísticas pelo Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, que está a fazer o mestrado em Economia Social na Universidade do Minho. Ao longo da sua vida, trabalhou várias vezes como voluntária em projetos de desenvolvimento, nomeadamente em Cabo Verde, onde esteve no bairro do Fonton, que fica na Cidade da Praia, ilha de Santiago; e decidiu transportar essa experiência para o seu percurso académico, fazendo uma ponte com Harambee. Resolvemos entrevistá-la, para conhecer um pouco melhor o conteúdo da sua investigação e o contexto do seu trabalho.

HAP – Maria João, qual é o tema da tua tese, e o que pretendes estudar?

MJL – O tema da tese é “O voluntariado universitário na elaboração de candidaturas de apoio social africano”, tendo como estudo de caso Cabo Verde. O objetivo da mesma é aliar o voluntariado à criação de projetos sociais, neste caso, à criação de um centro de estudos com apoio a português e a matemática, para alunos do 1º ao 6º ano de escolaridade do bairro do Fonton. O objetivo deste voluntariado não é o de dar bens materiais, mas sim o de pôr a render as capacidades e os conhecimentos individuais ao serviço dos outros. Por isso, o meu objetivo, para além de dar um suporte teórico e científico a este projeto, estudando a importância do voluntariado nos PALOP como fator de desenvolvimento social, bem como o tipo de voluntariado praticado, é responder a uma das necessidades identificadas pela população local, mostrando que o voluntariado ajuda a abrir horizontes e que faz a diferença na vida das pessoas.

HAP – Explica-nos brevemente que metodologia usaste.

MJL – Esta ideia surgiu depois de ter ido a Cabo Verde pela primeira vez, em 2017. Por isso, em 2018, quando voltei novamente ao bairro do Fonton, já tinha uma ideia muito clara do que queria desenvolver na tese. Enquanto lá estive, estabeleci alguns contactos, nomeadamente, com os membros da direção do CIC, Centro de Intervenção Comunitária, que está sediado no bairro, com uma professora do primeiro ciclo e com alguns moradores do mesmo. A ideia deste projeto partiu muito da observação, da partilha de experiências, sonhos e preocupações entre nós. Quando dei início à tese, em setembro de 2018, e sempre acompanhada pela minha orientadora, pensei que seria bom realizar algumas entrevistas a pessoas concretas que pudessem ajudar na elaboração deste projeto, e selecionar um grupo de estudantes que me ajudasse a levá-lo a cabo, porque na verdade este projeto não é só meu, mas sim de todos aqueles que contribuem para que, passo a passo, este sonho se torne realidade. Para a seleção da equipa que voluntariamente ajudaria no desenvolvimento do mesmo, tive em consideração alguns fatores, como por exemplo a participação no Projeto Universitário Cabo Verde, porque quando conhecemos a realidade local, quando vemos e sentimos as experiências, torna-se mais fácil criarmos um projeto realista que se adapte àquelas circunstâncias. Uma coisa que considero muito importante é o respeito mútuo, porque temos de perceber que as culturas são diferentes e que nenhuma se sobrepõe, e é importante manter a identidade e os costumes locais. Posto isto, foi também importante perceber quais as áreas envolvidas no projeto, de modo a selecionar pessoas que tivessem conhecimentos e apetências nas mesmas. No final foi constituída uma equipa com 14 voluntárias universitárias.

HAP – Como conheceste Harambee?

MJL – Já tinha ouvido falar no Harambee, mas nunca me tinha questionado acerca do mesmo. Quando disse à minha professora, orientadora da tese, a ideia deste projeto, falou-me do Harambee e, depois de ter investigado e feito algumas pesquisas sobre esta Instituição, fiquei muito sensibilizada com o trabalho desenvolvido pela mesma. HAP – De onde te veio a ideia de integrar Harambee na tua atividade académica? MJL – Como já referi, depois de ter feito algumas pesquisas sobre o Harambee, fiquei fascinada com os projetos desenvolvidos. Desde os meus 14/15 anos que faço voluntariado e sempre tive a ideia de que esta prática não deve ser apenas para colmatar uma necessidade de curto prazo. É muito bom que haja este tipo de iniciativas e eu apoio a 100%, mas ao fim de algumas experiências de voluntariado, comecei a pensar que poderia dar mais e ajudar mais. E ajudar não é apenas dar, dar coisas, dar tempo. Ajudar é também ensinar, é dar a cana e não o peixe. Quando regressei a Portugal, depois da primeira experiência em Cabo Verde, dei-me conta da sorte que tinha pela oportunidade de estar a estudar, e ainda por cima na área de que gosto, coisa que muitos deles infelizmente não têm. Então pensei: Porque não ajudá-los através do meu estudo? Sempre considerei que a educação é a base de tudo, que nos ajuda a descobrir qualidades e apetências que até então desconhecíamos, é o que nos leva a sonhar e a projetar um futuro promissor. Depois te ter conhecido e percebido quais eram as linhas orientadoras do Harambee, compreendi que partilhávamos a mesma opinião, e por isso, não tive dúvidas de que este era o caminho a seguir. Em conversa com a minha orientadora de tese, chegámos à conclusão de que o objetivo da mesma passaria pela elaboração de uma candidatura de apoio social africano, com o objetivo de ser submetida ao Harambee.

HAP – O que mais te impressionou nos africanos que conheceste?

MJL – Sempre fui uma apaixonada por África e, depois de ter ido num projeto de voluntariado a Cabo Verde, o meu interesse aumentou de forma inexplicável. Enquanto lá estive, o que mais me impressionou foi a generosidade, o acolhimento, a simplicidade e a alegria daquele povo. São pessoas muito humildes e com uma vontade enorme de aprender e de melhorar. Foi um enorme orgulho e uma sorte imensa ter aprendido tanto no tempo em que lá estive. Apesar das dificuldades, têm uma fé impressionante e um olhar muito positivo sobre a vida. Foi muito bonito ver a interajuda e a preocupação que há pelo bem-estar uns dos outros. Quem tem a sorte de partilhar vivências com eles, leva uma riqueza para a vida toda.

Oiça a Maria João em entrevista, a explicar o seu trabalho académico e o projeto em que está atualmente envolvida, para submeter a Harambee: https://www.facebook.com/elizabeth.souzavale/videos/2154025558017583/?hc_ref=ARSjJ1AWAdiHduTweh2m-UDHLW3es-yHB-dYhZRLACmdgC-Um3UxxJRJHIwdYfsyCw8